No Brasil - infelizmente - o “jeitinho” virou quase uma marca registrada. A criatividade para contornar regras, mesmo que de forma aparentemente inofensiva, está presente no dia a dia — seja ao furar uma fila, burlar o sistema de ponto ou fazer vista grossa para desvios internos. Mas quando esse comportamento é normalizado no ambiente institucional, o risco vai muito além de uma cultura questionável: ele pode escalar em fraudes corporativas milionárias, processos judiciais e danos irreversíveis à reputação da empresa.
Segundo a Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), empresas perdem, em média, 5% de sua receita anual para fraudes. No Brasil, esse percentual pode ser ainda maior, dada a conivência histórica com práticas pouco éticas. Uma pesquisa da KPMG revelou que 60% das empresas brasileiras já sofreram algum tipo de fraude corporativa, e em mais de 70% dos casos, o autor era um colaborador interno.
Frente a esse cenário, a pergunta é: como as empresas podem se proteger de fraudes antes mesmo que elas aconteçam? A resposta está na IA preditiva — a tecnologia capaz de analisar comportamentos, cruzar variáveis e detectar padrões suspeitos antes que eles se transformem em problemas reais.
O "jeitinho brasileiro", quando internalizado pelas empresas, alimenta uma cultura de exceções, onde o que importa é "dar certo" — ainda que à margem das regras. Essa mentalidade pode ser o gatilho para comportamentos fraudulentos, como:
O maior risco? Muitos desses comportamentos passam despercebidos até causarem impacto financeiro significativo. E mesmo quando identificados, o estrago à credibilidade da empresa já está feito.
Diferente de sistemas tradicionais de auditoria — que analisam fatos passados — a IA preditiva trabalha com probabilidades futuras. Ela aprende com dados históricos, detecta anomalias e prevê comportamentos suspeitos com base em padrões complexos. Em outras palavras, ela transforma dados em vigilância inteligente e proativa.
A tecnologia cruza dados públicos e privados para detectar inconsistências em currículos, vínculos empregatícios suspeitos, antecedentes judiciais e possíveis conflitos de interesse — antes mesmo da contratação.
Permite classificar áreas, funções e indivíduos com maior propensão a risco, considerando o tipo de atividade, grau de acesso a dados sensíveis e exposição a fraudes.
Avaliação automatizada de risco para colaboradores, franqueados, fornecedores e parceiros, com foco na integridade e conformidade ao longo de toda a cadeia de relacionamento.
Adotar IA preditiva não é apenas uma evolução do sistema de compliance — é um posicionamento estratégico. Em tempos de ESG, accountability e pressão por integridade, empresas que investem em tecnologias antifraude não estão só se protegendo: estão construindo reputação, confiabilidade e vantagem competitiva.
Além disso, a automação da detecção de riscos libera o time de compliance e jurídico para atuar de forma mais estratégica, em vez de se afundar em análises manuais e reativas.
De acordo com a ACFE, o tempo médio para detectar uma fraude sem ferramentas analíticas é de 14 meses. Com uso de tecnologias como IA e data analytics, esse tempo cai para menos de 6 meses, reduzindo os danos financeiros em até 50%.
Empresas que implementaram soluções preditivas relataram uma redução média de 33% no número de incidentes e um aumento significativo na capacidade de resposta a riscos em tempo real.
No fim do dia, a cultura organizacional que tolera pequenos desvios é a mesma que abre portas para fraudes maiores. O antídoto é claro: criar um ambiente onde as exceções são rastreadas, os padrões são monitorados e a inteligência é aplicada de forma preventiva.
A IA preditiva é, acima de tudo, uma ferramenta de transparência. E em um mundo onde confiança é o novo capital, não existe ativo mais valioso.