Um dos problemas que persiste em muitas empresas está na falta de acesso à informação correta e tomadas de decisões baseadas em intuições, experiências passadas ou “achismos”. Por isso, cresce a demanda por estratégias baseadas em dados e, até mesmo, empresas orientadas a dados. Ou seja, empresas com gestão Data Driven.
A gestão Data Driven permite que processos e decisões sejam realizados a partir de dados, estatísticas, métricas e números. Isso significa que o julgamento das ações passa a ser menos subjetivo, ganhando o embasamento objetivo dos dados.
Contudo, o uso de dados por organizações para melhorar a eficiência das operações e impulsionar a inovação não é exatamente uma novidade. Desde o início do século 20, as empresas têm aplicado técnicas de gestão científica para obter mais de seus ativos. No entanto, a última década viu uma enxurrada de novas ferramentas e técnicas, assim como fontes e formas de dados que estão mudando o panorama do planejamento de negócios e inovação.
Analistas da Forrester Research identificaram que empresas com foco estritamente em dados crescem, em média, mais de 30% ao ano e estão a caminho de fazer US$ 1,8 trilhão até o fim de 2021. Pesquisas semelhantes destacam o surgimento de empresas dominando seus setores e a concorrência, além de criar novos mercados, gerando insights acionáveis por meio de coleta de dados e análises.
Para os líderes, a questão chave é saber quais são as características que definem os negócios baseados em dados e o que as empresas podem fazer para alcançá-los.
No cerne de qualquer empresa Data-Driven está a cultura interna da empresa em relação à maneira como enxerga e age sobre os dados.
Essa essência tem que partir de cima, e ser abraçada por todos os setores. A mesma pesquisa da Forrester mostra que tratar e analisar os dados como um recurso relevante apenas para partes específicas de uma empresa, por exemplo, para a criação de relatórios ou planejamento estratégico, limita o potencial para desenvolver percepções que podem alimentar a inovação e o desenvolvimento de novos produtos.
Outra pesquisa, desta vez da McKinsey & Company, mostra a importância de que a análise de dados, por si só, não vai trazer tantos ganhos.
No centro de toda essa atividade, deve estar o objetivo de tomar melhores decisões. Isso requer dados disponibilizados para todos na organização que necessitem deles, além de ferramentas para analisá-los. Estudos em empresas globais, como Boeing, mostram que, quando os funcionários têm melhor acesso aos dados, novas ideias surgem e melhorias operacionais são feitas.
Ted Colbert, atualmente CEO da cia, foi categórico nas suas palavras. “Você precisa descobrir como democratizar a capacidade de análise de dados, o que significa que é necessária uma plataforma por meio da qual as pessoas possam acessar os dados facilmente.
Isso ajuda as pessoas a acreditar nisso e a fornecer soluções que não exigem um cientista de dados caro. Quando as pessoas começam a acreditar nos dados, é uma virada de jogo: elas começam a mudar seus comportamentos, com base em uma nova compreensão de toda a riqueza presa sob a superfície de nossos sistemas e processos”.
Onde assinamos, Ted Colbert?
Sem o treinamento correto e o acesso às ferramentas, não há lógica em esperar de funcionários, que não são cientistas de dados, a geração de insights a partir dos dados.
É aqui que uma força de trabalho com conhecimento de dados é primordial para liberar a criatividade inexplorada em muitas organizações. Estamos, portanto, falando de um processo incipiente, de alfabetização, caso contrário, dificilmente uma companhia conseguirá alcançar o patamar de gestão Data Driven.
Se na década de 1980, a revolução foi relacionada a computação, exigindo iniciativas de treinamento massivo para transformar uma força de trabalho analógica para a era digital, agora esse tipo de tecnologia está mais do que difundida e integrada em praticamente todas as organizações, e sequer é um diferencial há algum tempo.
Por outro lado, negócios orientados a dados ainda são novidade para diversos segmentos, e as organizações que aplicam esse modelo partindo do alto escalão até áreas mais iniciantes, capacitando seus funcionários para gerenciar e analisar dados, terão vantagens em relação aos concorrentes.
Ainda usando de exemplo a revolução da computação há 30 anos, chegamos a um cenário interessante. Naquela época, grandes empresas estabelecidas tinham a vantagem de aproveitar os recursos financeiros para comprar e instalar hardwares e softwares de ponta.
Atualmente, porém, essas tecnologias sofreram, digamos, uma comoditização, e são acessíveis por qualquer tipo de empresa. Na mesma linha, os dados, que antigamente eram passíveis de investimentos altos para se obter, nunca foram tão difundidos, muitas vezes de fontes públicas disponíveis gratuitamente.
Embora as empresas de grande porte possam se basear em grandes conjuntos de dados operacionais, elas podem carecer de cultura e destreza para tomar medidas significativas e rápidas com base nesses dados.
As startups e os novos entrantes, que constroem modelos de negócios diretamente com base nos dados, costumam ser capazes de superar os concorrentes do setor.
O desafio de mudar as culturas da empresa e melhorar a alfabetização em dados vem à tona entre as grandes empresas nesses cenários. O aumento de aplicativos e soluções de Inteligência Artificial (IA) e o Machine Learning (ML), cada vez mais acessíveis, só vão acelerar esse cenário.
A sua empresa, independentemente do tamanho e segmento, está preparada para essa tendência?
Pedimos desculpas por continuar a comparação com os anos 1980, mas é que realmente faz sentido. Por exemplo: o economista Robert Solow, em 1987, apontou para o fato de que muitas empresas, apesar de investimentos maciços em tecnologias de computação, não obtiveram ganhos consideráveis em termos de produtividade.
É possível que um padrão semelhante possa ocorrer com o surgimento de organizações Data-Driven. Ter acesso a mais dados pode não melhorar a forma de produção a curto prazo, mas é preciso insistir.
Em 2019, a Harvard Business Review relatou um lento progresso entre as grandes corporações dos Estados Unidos na implementação de estratégias baseadas em dados – apesar de grandes investimentos em tecnologias e recursos para facilitar esses desenvolvimentos.
No entanto, se uma empresa chegar à conclusão que não investir na criação de uma cultura baseada em dados pode ser uma abordagem sensata, estará diante de um grave erro de gestão. Goste ou não, empresas Data-Driven serão líderes de mercado na próxima década e farão uso de dados de maneiras criativas e inovadoras para conduzir seus programas e superar seus concorrentes.
Assim como nenhuma empresa poderia resistir ao surgimento do computador ou da Internet e sobreviver por muito tempo, nenhuma empresa será capaz de ignorar a incorporação de dados no centro de suas operações e permanecer lucrativa.